quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Acabou.

Acaba aqui a história da Preta. Foi uma enorme lutadora. Desde cedo soubemos que tinha problemas cardíacos. Muita teimosia, muita dedicação nossa, o excelente trabalho da equipa da Ani+ e 5 comprimidos 2 vezes por dia prolongaram-lhe a vida até hoje (16/12/2015).
Houve muitas crises, muitos períodos em que pensámos que não ia resistir. Invadiu-me a tristeza de saber que é sempre assim, que ganhamos batalhas e mais batalhas, para no fim perder sempre a última. E voltou a revolta, o que senti quando a Preta perdeu a outra grande batalha, quando a expulsaram da casa que foi dela durante oito anos. Para quem saiba a história que está aí em baixo será fácil perceber que a preta teria vivido muito menos tempo se tivesse ficado na tal bomba de gasolina da BP. Teria talvez existido mais uns meses em vez dos quase seis anos que esteve  connosco. Mas era a casa dela, porra. Claro que a preta teve muitos momentos felizes desde então, mas não consigo esquecer aquela pequena cadela que me escolhia de uma fila com dez pessoas para pagar a gasolina, mesmo quando eu com a pressa, queria fingir que não a via, inútil disfarce, nunca poderia sair dali sem deixar um mimo e uns biscoitos ou uma lata de comida. A Preta para mim era quase a alma daquele sítio. Era acarinhada pelos que lá trabalhavam, e muitos clientes como nós faziam desvios para abastecer ali e fazer mais uma festa, deixar mais um biscoito. Não sei se se integrou verdadeiramente cá em casa, entendia-se com o resto do Zoo mas sempre no seu lugar sem grandes misturas, infelizmente até tenho a sensação que apesar de todos os cuidados que lhe demos era mais feliz no meio dos gases de escape e dos óleos do posto de abastecimento. Ou não, talvez aquela aparente solidão fosse apenas efeito da doença. Tenho a certeza que confiou em nós, quando não dormíamos ou quando nos chamava para subir e descer as escadas ao colo porque mal se tinha nas pernas. Nunca compreenderei a fria burocracia que assim expulsa um animal, nem a cobardia dos que se acolhem por detrás dela, incapazes de uma atitude. Eu simbolicamente nunca mais abasteci num posto da BP. É lhes indiferente, eu sei, mas sou incapaz de o fazer sem pensar nesta história.